MENTORING NÃO É FAST-FOOD

MENTORING NÃO É FAST-FOOD

Kleber Rodrigues


Recebi a ligação de um amigo, bastante entusiasmado por sinal, dizendo que criou um método incrível para se promover nas redes sociais, e estava montando uma turma de “Mentoria” para ensinar seu método.
Naturalmente ele queria me vender o produto, e eu não quis esfriar o entusiasmo dele. Apenas disse que no momento não era do meu interesse...
Mas vamos falar um pouco sobre essa tal “Mentoria”.
Na atual avalanche de informações que estamos vivendo, a área de desenvolvimento humano está sendo sucateada pela cultura popular, em um nível que compromete duramente a credibilidade e a eficácia. Vimos isso com os Treinamentos, depois com o Coaching, e, agora, na busca de uma novidade, os “marketeiros” migram para o Mentoring.


Talvez você já tenha visto anúncios de mentorias semelhantes à essa proposta, ou talvez, inadvertidamente, você promova mentorias como esta...
Então, vamos entender o problema em tudo isso, e como resgatar o valor do Mentoring.
Experimente seguir os passos do Steve Jobs: Junte dois amigos, abandone a faculdade, reúna-se na garagem e monte...: Um computador pessoal!
Provavelmente a matemática para o sucesso não seria tão favorável ao seu empreendimento! Porque você não é Jobs, porque os tempos são outros, porque seus contatos e as oportunidades não são os mesmos, porque o mercado é outro! ...E talvez até, em outros contextos, possam ser melhores, mas jamais serão iguais!


Graças a complexidade e a velocidade dos dias de hoje, as pessoas querem sistematizar modelos que são ou deveriam ser únicos, como se fosse possível clonar qualquer comportamento e assim obter o melhor resultado.
Quando se procede dessa forma, estão negando um fator primordial que é o respeito a individualidade! Estamos recusando o valor da diversidade humana!


Não estou me referindo a diversidade tão propagada pela mídia, de cor, religião e opção sexual. Claro que esta é muito importante, mas estou falando muito mais do que isso.
Somos diferentes em experiências, em recursos e em estratégias mentais! ...E tudo isso vem muito antes de qualquer diferença visível.
É como obrigar alguém a vestir o calçado de quem caminha a sua frente, sem perguntar sobre o tamanho, gosto pessoal, formato do pé ou se combina com a roupa.
Vitimados pela complexidade e velocidade competitiva, as pessoas buscam copiar modelos vigentes, fazer o que o outro fez, sem se perguntar sobre a adequação ao seu contexto!


O resultado disso é um mundo de frustrações! Ou pela falta de resultado ou pela supressão da sua essência!
Apesar disso, as soluções empacotadas abundam na Internet e no mercado, e a cada novo instante surge mais um criador de modelos “fast food”.
No Brasil vemos, por exemplo, grandes varejistas, como Casas Bahia, Ricardo Eletro e Magazine Luiza, brigando por preço (por mais que digam, o consumidor não difere um do outro senão pelo preço), enquanto vemos a Amazon estudando as entregas realizadas por drones.
No começo da pandemia, as entregas de comida começaram a trazer textos carinhosos para as pessoas. No começo, as pessoas sorriam e postavam nas redes sociais. Hoje, todas as empresas escrevem mensagens, e a maioria ninguém mais lê.
Veja o recrutamento de pessoas nas empresas, e note como os requisitantes sempre estão em busca de alguém realmente diferenciado! ...E raramente encontram...


Diferencial virou raridade! Desde criança nos diziam: Faça como o fulano! Veja como ele faz! Aprenda com ele... Nos ensinam a seguir a mesma trilha, suprimir suas ideias e se resignar com o modelo imposto.
Buscar esses atalhos nas pegadas de outrem não nos fazem mais dignos nem mais fortes!
Por que nunca perguntam se dentro de tantas possibilidades qual seria a melhor para você? Ou quais outras possibilidades você pode identificar? Ou qualquer coisa que respeite e valorize a sua individualidade?
Isso me lembra um conhecido, executivo, que disse que procurava um professor particular de matemática para o seu filho, e quando eu perguntei se ele sabia se a dificuldade do filho dele com a disciplina ou com o método, ele me respondeu:- Não, nenhuma! Ele é muito bom em matemática, e por isso preciso estimulá-lo!”


Que visão inspiradora! Note que a nossa cultura nos impele a equalizar todas as pessoas, a reforçar o que vai mal para ficar parecido com o outro como esse fosse o único caminho para o crescimento.
O resultado disso é um exército de iguais que em pouco tempo é obrigado a se render a autofagia! Empobrece o mercado, empobrece o valor individual, subvaloriza a competência, abre uma batalha insana com os iguais da concorrência!
Qualquer movimento de ascensão talvez perdure por 2 ou 3 anos, e em pouco tempo o mercado estará saturado de iguais. Com isso os valores do serviço despencam, o consumidor já não valoriza, a satisfação do profissional fica mexida...
Pesquise qual modelo Jobs, Gates, Bezos ou Musk copiaram! Você provavelmente sabe a resposta: Nenhum! Podem ter se inspirado, mas não copiado!


As mudanças mais significativas no mundo foram disruptivas! E se mais pessoas se arriscassem? E se deixassem de lado as receitas de bolo e construíssem novos caminhos?
O que as pessoas realmente desejam, o que esse novo mundo realmente necessita, não é “mais um” modelo, “mais um” empreendimento ou “mais um” profissional! Mais do que nunca, precisamos de modelos, empreendimentos e profissionais diferenciados que permitam novas e rápidas transformações para atender a esse tempestuoso mercado!
E o Mentoring? Gosto da definição de Jaime España que define como “a arte de somar possibilidades”. Não é para ensinar modelos, mas para ajudar o Mentorado a aprender com esses modelos e criar suas possibilidades!
Quando você for contratar ou elaborar um processo deste tipo, lembre-se de que um processo de Mentoring de verdade, ajuda você a se inspirar, a descobrir seus recursos, a desenhar seu próprio caminho, a evitar tropeços ao longo de sua jornada, mas acima de tudo a aprender e crescer com tudo isso!