A Importância da Aceitação na Prevenção do Suicídio

Quando tinha sete anos, percebi que a minha existência trazia paz e bem-estar aos outros, mas a mim apenas sofrimento. Antes dos nove anos, a frase que mais ecoava na minha cabeça era: “se vivemos para sofrer, o melhor mesmo é morrer já!”

A história da minha vida não é única. Infelizmente, muitas pessoas enfrentam lutas semelhantes e é essencial que abordemos o suicídio com a seriedade que ele merece.

Conheci o Miguel quando andava no ciclo, os adultos à sua volta exigiam dele perfeição, eu lembro-me das vezes que o vi chorar e me dizia que só queria poder fazer coisas normais de adolescente.

Aos dezassete anos, o Paulo olhava para mim de forma diferente e falávamos de coisas banais sem qualquer tipo de julgamento. Quando anos mais tarde soube da sua morte escrevi-lhe um poema para colocar junto da sua lápide. Ainda continua no meu caderno de poemas desse tempo.

A cada perda, percebi que algo não estava bem dentro de mim. Também não tinha com quem falar, que ninguém me iria entender.

O suicídio é um ato de desespero, uma saída quando não se encontra outra!

Como adulta e mãe, rendi-me aos tratamentos químicos, aos psicólogos e psiquiatras e aprendi a comportar-me de forma diferente para não sofrer. Aceitei colocar uma máscara, uma fachada para o mundo. No entanto, isso não foi suficiente.

A Maria, que me ajudava com os meus filhos, apareceu morta no rio após celebrarmos o nascimento da sua neta. Ela vivia para agradar, sentia-se sempre uma inútil, um peso para os demais e em momento algum consegui perceber quem ela era verdadeiramente.

Foi com o João, com quem partilhava os meus dias, que consegui perceber a dor com outra magnitude. O tiro no coração dele foi também um tiro no meu.

Levei algum tempo até perceber que estava a prejudicar as pessoas que mais amo, os meus filhos. Cada vez que me escondia fingindo ser a pessoa que na verdade eles conseguiam perceber que eu não era.

Não é possível fazer de conta o tempo todo? Ser perfeita a toda a hora? Nos momentos de desespero, de agonia, de choro, há sempre alguém que vê, mesmo que não diga nada.

Não se fala dos casos de sucesso porque não enchem capas de jornais, ou porque todos temos tantas feridas de infância que só conseguimos reconhecer a dor.

Não somos educados para a paz, para a aceitação, para compreender que somos seres divinos e que aquilo em que somos diferentes é o que nos torna especiais e únicos.

Todos queremos ser “normais”, sem saber o que isso significa!

É preciso entender que as preocupações do passado já não fazem sentido hoje. As vivências e dificuldades dos nossos antepassados tiveram a sua razão de ser de acordo com as dificuldades da época, mas que não são as mesmas dos nossos dias.

Escrevi o livro, "Eva entrega a Costela a Adão", que nos leva a refletir sobre as consequências da forma como estamos a educar as nossas crianças.  

Fundei a Associação Amar Eva, para sensibilizar sobre a importância de amar aquilo que somos. Para amar o que somos primeiro temos que entender que a situação em que cada um se encontra neste momento é moldada por aqueles que chamamos de família, pelo local onde nascemos e pela sociedade em que estamos inseridos.

Quando o que és não corresponde às expectativas dos outros, quando tentas moldar-te só para ser aceite, o sofrimento pode levar-te ao suicídio.

Com esta crónica quero dizer-te que é possível fazer diferente.

Precisamos aprender a estar atentos, a ouvir o outro sem o querer mudar, sem lhe oferecer soluções não solicitadas.

Para minimizar este flagelo crescente, não interessa insistir em saber todas as definições de inteligência emocional e os traumas de infância que os outros viveram, se não tiveres a coragem de ir ao mais profundo da tua dor, entender e perdoar, não para esquecer, mas para não repetir.

Aceitar-nos a nós próprios e aos outros pode salvar vidas.

O trabalho da associação Amar Eva é dar, todos os dias, mais um passo na construção de uma sociedade onde cada indivíduo se sinta valorizado e compreendido.

Não desistas, junta-te a nós!

amareva.associacao@gmail.com